A importância de um estilo de vida saudável

A transição demográfica, que aconteceu em Portugal por volta da década de 60, trouxe-nos uma grande mudança no perfil de saúde e doença da população. Com a industrialização, melhoraram as condições higiosanitárias e o acesso à saúde, o que levou ao aumento gradual da esperança média de vida.

Vive-se hoje mais e melhor.

E por isso saímos de um contexto caracterizado por maior prevalência de doenças infeciosas para o aparecimento (e manutenção) das doenças crónicas, não transmissíveis, como principal causa de mortalidade e morbilidade em Portugal. Crónicas porque são condições para a vida; não transmissíveis porque não resultam do contágio por um agente infecioso. São antes adquiridas, consequentes a um estilo de vida que o nosso organismo não é capaz de suportar.

Vários estudos indicam que na base da elevada prevalência das doenças crónicas está uma inadaptação genética do ser humano ao ambiente com o qual foi confrontado, em tão curto espaço de tempo. Antes, era a força humana que movia a produção, hoje são as máquinas que não nos deixam mover. Antes o alimento matava a fome, hoje o alimento engorda. Este é um passado já quase esquecido e é preciso recordar algumas práticas que noutros tempos fizeram parte da rotina de qualquer português: os alimentos da época sabem e fazem melhor, o convívio à mesa dá outro encanto à refeição, andar torna o corpo e mente sãos.

Engordar não é nada mais do que uma defesa inteligente do nosso corpo à escassez, muito útil nesses ‘outros’ tempos: a constituição de reservas, capazes de garantir a vida, perante a ausência de alimento. Essa escassez já não existe e temos, por sua vez, uma indústria alimentar que evolui em velocidade cruzeiro, antecipando as vontades de qualquer consumidor. Imagine-se o espanto do nosso bisavô ao entrar no supermercado dos dias de hoje? Quantos alimentos reconheceria? Já pouco encontraria de natural, genuíno, não processado ou aditivado!

Em paralelo com a indústria alimentar corre a indústria farmacêutica! Pois se o meio ambiente cria doença, há que saber trata-la. E se a alimentação não reduz o colesterol, a pílula mágica, com menor esforço, garante que sim. O modelo biomédico continua o preferido e poucas abordagens focam no equilíbrio entre o físico, mental e espiritual.

Mas serão as doenças crónicas uma paragem obrigatória?

Provável sim, mas não obrigatória. A palavra-chave é ‘ESCOLHAS’. E dentro das inúmeras e a cada dia crescentes possíveis escolhas, há AS ESCOLHAS: as que favorecem a probabilidade de termos saúde, as que constituem o chamado estilo de vida saudável. Mas estas devem enraizar-se no nosso dia-a-dia e não serem opção de dias especiais, em função das estações ou modas. Essas escolhas devem contemplar o nosso equilíbrio físico, mental e espiritual. E nem sempre é preciso um especialista de saúde para nos indicar caminho. O corpo dá muitos sinais: o cansaço de não dormir, a irritabilidade de comer mal, a impaciência de não caminhar.

Pergunto…quantos sinais recebeu hoje?

Quantos desses sinais foram transformados em “ESCOLHAS”?

 

Dr.ª Lisa Afonso (Nutricionista e Mestre em Saúde Pública)

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